A epilepsia não é uma doença específica, mas sim uma condição neurológica crônica caracterizada por episódios recorrentes de convulsão. Uma convulsão é a manifestação clínica de uma atividade elétrica anormal e excessiva no cérebro.
Etiologia
As crises epilépticas podem ter causas primárias ou secundárias
A epilepsia primária é também chamada de epilepsia idiopática e ocorre quando não há uma causa subjacente, ou seja, são excluídas causas estruturais e metabólicas.
A epilepsia secundária ocorre por uma causa base, que pode ter origem intra ou extracraniana. As causas intracranianas envolvem anormalidades estruturais no cérebro, sendo as principais devido à neoplasias, inflamações, infecções, má formação, desordens vasculares, um trauma na região da cabeça ou outras condições que causem anormalidades no cérebro.
Já nas epilepsias com causas extracranianas, a crise epiléptica é conhecida como reativa, pois o cérebro está perfeitamente saudável, mas reage, por exemplo, a uma toxina ou mudanças na composição do sangue devido a um problema metabólico. As causas mais comuns são devido a hipoglicemia causada por overdose de insulina ou insulinoma, encefalopatia hepática, e ainda, hipertireoidismo, hipertensão severa, uremia crônica e distúrbios eletrolíticos severos.
Manifestações clínicas
As crises epilépticas podem ocorrer de forma focal (parcial) ou generalizada.
A focal origina-se em uma região de um dos hemisférios cerebrais, resultando em manifestações como: movimentos anormais da face, cabeça, membros ou pescoço (automatismos), sialorréia, vocalização excessiva, movimentos anormais da pupila, andar em círculos, entre outros comportamentos. Crises focais podem ocorrer diversas vezes durante o dia e podem rapidamente progredir para uma crise generalizada.
A generalizada se origina de ambos os hemisférios cerebrais e são comumente crises tônico-clônicas, ou seja, iniciam-se com a perda da consciência e da postura do animal, extensão exagerada dos músculos e seguem com espasmos musculares generalizados. O animal pode salivar, urinar e defecar durante o episódio.
A crise epiléptica pode ainda ser dividida em 4 períodos:
Pródromo: período que antecede a crise, podendo durar de horas a dias, e geralmente inclui um comportamento ansioso.
Aura: período no início da crise, podendo durar alguns segundos a minutos, no qual o animal pode apresentar alguns sinais estereotipados, repetitivos, comportamentos anormais ou ainda vômito e salivação.
Ictus: período do episódio convulsivo em si, onde o animal pode exibir uma variedade de sinais clínicos. Geralmente dura de alguns segundos até 1-3 minutos.
Pós-ictus: período após o episódio durante o qual o animal pode exibir desorientação, sonolência, déficits proprioceptivos e outros comportamentos anormais.
Diagnóstico
O diagnóstico da epilepsia deve envolver uma investigação para determinar sua causa. Deve-se levar em consideração o histórico do animal, avaliação física, aferição da pressão arterial, avaliação neurológica e exames complementares.
A investigação de uma causa extracraniana de epilepsia é baseada em exames de sangue para verificar a possibilidade de doenças hepáticas, renais ou de outros órgãos, assim como causas infecciosas (por exemplo, FIV e FeLV). Além disso, a avaliação da pressão sanguínea deve ser levada em consideração, já que um aumento expressivo pode causar convulsões.
A avaliação de causas estruturais é feita através de exames de imagem como ressonância magnética ou tomografia computadorizada, além de análise do líquido cefalorraquidiano. A ressonância magnética é o melhor exame de imagem para detecção de anormalidades encefálicas.
Já o diagnóstico da epilepsia primária é um diagnóstico de exclusão após eliminação das causas secundárias, sendo elas metabólicas ou estruturais. Não há um teste diagnóstico definitivo e todas as investigações anteriores (exames de sangue, RM, TC e análise do líquor) são normais. Gatos com idade entre 1-5 anos durante o primeiro episódio são mais sugestivos de possuírem epilepsia primária.
Tratamento
O tratamento da epilepsia deve focar primariamente na causa da mesma, se ela puder ser identificada. O objetivo do tratamento não é curar o animal, mas sim reduzir a frequência e severidade das crises, buscando-se evitar efeitos colaterais da medicação.
Para a epilepsia primária e aquelas causadas por alterações estruturais, o tratamento consiste no uso de fármacos antiepilépticos a longo prazo, e provavelmente até o final da vida do animal. Vários medicamentos podem ser utilizados, como fenobarbital, levetiracetam, zonisamida, gabapentina, pregabalina e diazepam. Um tratamento é considerado bem-sucedido quando a frequência dos episódios é reduzida em pelo menos 50% e os efeitos colaterais são mínimos ou inexistentes. Quando essa meta não é atingida, o veterinário deve reavaliar o plano de tratamento, a dosagem do medicamento, ou mudá-lo, pois o gato pode se tornar refratário ao antiepiléptico utilizado. Além disso, a medicação nunca deve ser parada abruptamente pois podem ocorrer convulsões devido a retirada da medicação.
Referências
BAILEY, K. S.; DEWEY, C. W. The Seizuring Cat. Journal of Feline Medicine and Surgery, v. 11, n. 5, p. 385–394, maio 2009.
HAZENFRATZ, M.; TAYLOR, S. M. Recurrent seizures in cats: Diagnostic approach – when is it idiopathic epilepsy? Journal of Feline Medicine and Surgery, v. 20, n. 9, p. 811–823, 24 ago. 2018.
HAZENFRATZ, M.; TAYLOR, S. M. Recurrent seizures in cats: Treatment – which antiepileptic drugs are recommended? Journal of Feline Medicine and Surgery, v. 20, n. 9, p. 825–834, 24 ago. 2018.
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