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Foto do escritorMayara Alves Santos

Peritonite Infecciosa Felina

Atualizado: 8 de jun. de 2021

A Peritonite Infecciosa Felina (PIF) é uma doença infectocontagiosa,

imunomediada fatal, de incidência mundial, que acomete felídeos domésticos e

selvagens. É caracterizada como uma vasculite inflamatória piogranulomatosa

imunomediada multissistêmica e atualmente é responsável por cerca de 1,5%

dos óbitos de gatos em instituições veterinárias.

O agente etiológico da PIF é um coronavírus envelopado com RNA fita

simples denominado Vírus da Peritonite Infecciosa Felina (FIPV), oriundo de

mutações no genoma durante a replicação intestinal do coronavírus entérico

felino (FeCoV) em gatos com infecção ativa.

O vírus da PIF (FIPV) surge através de mutações específicas no

coronavírus entérico felino (FeCoV) que é onipresente em gatos em todo o

mundo e não representa por si só um patógeno importante. O FeCoV é eliminado

nas fezes da maioria dos gatos aparentemente saudáveis em grandes ambientes

com vários gatos e sua transmissão resulta da ingestão direta de fezes, caixas de

areia contaminadas e outros fômites.

Os gatinhos geralmente são infectados por volta das 9 semanas de

idade, assim, os vírus mutantes do FeCoV capazes de causar a PIF são

provavelmente gerados durante uma infecção resistente e quando os níveis de

replicação de FeCoV são extremamente altos. No entanto, apenas uma pequena

proporção de gatos expostos a esses vírus mutantes desenvolverão a PIF – a

resistência a esta doença é complicada e envolve suscetibilidade genética, idade

no momento da exposição e uma série de estressores que ocorrem ao mesmo

tempo que a infecção e tem um impacto negativo na capacidade do gato

infectado para eliminar o vírus.

O coronavírus entérico felino apresenta tropismo pelo epitélio apical

maduro dos vilos intestinais, replicando-se exclusivamente nesse local e

causando diarreia ou infecção assintomática, limitada ao sistema digestório e de

resolução simples.

As mutações em seu material genético proporcionam também mudanças

em seu comportamento, assim, o então conhecido FIPV se replica em

macrófagos, e dissemina-se para os órgãos através do sangue, ocasionando

infecção sistêmica e PIF – sendo a PIF caracterizada por baixa morbidade e alta

taxa de mortalidade. Depois de mutado este vírus perde sua capacidade de

transmissão.

São fatores predisponentes ao desenvolvimento da PIF:

  • tempo de exposição ao vírus;

  • susceptibilidade genética à mutação do FeCoV;

  • capacidade imune e estresse;

  • infecções intercorrentes com os vírus da leucemia felina (FeLV) e da imunodeficiência felina (FIV);

  • idade, sendo que acredita-se que gatos entre dois meses e três anos são mais acometidos;

  • animais que vivem em locais com alta densidade populacional.

A PIF é classificada por duas formas de síndromes clínicas: uma efusiva

ou “úmida”, caracterizada por vasculite e poliserosite – que ocasiona efusões

pleural e peritoneal – e uma forma não-efusiva ou “seca”, caracterizada por

lesões granulomatosas em órgãos parenquimatosos, sistema nervoso central,

olhos e intestinos. Alguns autores consideram ainda uma terceira forma, sendo

esta mista, que resultaria da combinação das duas outras formas.

Acredita-se que o desenvolvimento da doença e a forma que se

apresentará no indivíduo contaminado depende da resposta imunológica que o

animal desenvolve após uma primeira infecção. De forma simplificada: a PIF não

efusiva resulta de uma imunidade celular existente porém incapaz de barrar o

vírus, enquanto que gatos que produzem resposta imune humoral, mas não

desenvolvem imunidade celular desenvolvem a forma efusiva. Nesse caso, os

macrófagos com vírus se acumulam ao redor de vasos e no interstício dos tecidos

e as lesões vasculares causam, então, a efusão dos fluidos ricos em proteína,

característicos da PIF efusiva.

Sintomatologia

Diversas são as manifestações clínicas da PIF, sendo os sinais gerais

possivelmente encontrados:

  • apatia

  • anorexia

  • perda de peso

  • desidratação

  • febre intermitente

  • vômitos e diarreia

  • icterícia (decorrente de hepatite granulomatosa)

Sinais clínicos mais específicos das duas formas são:

  • PIF efusiva: efusão pleural, dispneia e taquipneia, efusão pericárdica demonstrando sinais de insuficiência cardíaca congestiva, e distensão abdominal

  • PIF não efusiva: lesões granulomatosas em órgãos; alterações neurológicas como ataxia, nistagmo, convulsões e paresia de membros; e distúrbios oftálmicos como uveíte, hifema e hipópio.

Diagnóstico

Atualmente o diagnóstico da PIF ainda é um grande desafio. Isso se deve,

pois os achados laboratoriais e testes disponíveis no mercado são bastante

inespecíficos.

Seu diagnóstico é baseado principalmente na consideração da idade,

origem, sinais clínicos e exame físico do gato. Gatos de 4-36 meses de idade, que

vivem em ambientes de alta densidade, manifestam uma febre persistente, mas

ondulante, que não responde ao antibiótico são suspeitos imediatos para FIP.

Sinais mais específicos de FIP observados pelo proprietário ou pelo

exame físico direcionam ainda mais as opções diagnósticas: distensão abdominal

com ascite, dispneia com derrame pleural, icterícia, hiperbilirrubinúria, massas

nos rins e /ou nódulos linfáticos mesentéricos, uveíte e uma variedade de sinais

neurológicos são comuns. Neste ponto, o diagnóstico pela clínica de FIP pode ser

feito com uma certeza razoável.

No entanto, dada a alta mortalidade, muitos veterinários e proprietários

se sentem desconfortáveis com um diagnóstico baseado em "certeza razoável". A

dificuldade, então, passa a ser a escolha de testes que irão promover maior

garantia de que os sinais clínicos sejam causados por FIP (testes indiretos), ou

que possam fornecer até mesmo um diagnóstico definitivo (testes diretos).

Vale lembrar que a sensibilidade e especificidade de qualquer teste

indireto irá variar muito, sendo estes capazes tanto de confundir quanto

fortalecer o processo diagnóstico.

Alguns achados laboratoriais e exames podem auxiliar no diagnóstico,

sendo eles:

  • Hiperbilirrubinemia e hiperbilirrubinúria;

  • Relação albumina / globulina < 0,81 (92% positividade);

  • Analise do liquido efusivo: transudato modificado à exsudato asséptico, com neutrófilos e macrófagos íntegros;

  • RT-PCR: encontrar quantidade significativas do mRNA viral no sangue, derrame ou em tecidos pode ser indicativo de PIF;

  • Histopatológico e imunohistoquímica.

Possibilidades Terapêuticas

Diferentemente da realidade de 3 anos atrás, atualmente a Peritonite

Infecciosa Felina apresenta uma possibilidade de cura eficaz.

As possibilidades terapêuticas para essa doença, ainda que com eficácias

e objetivos diferentes, giram em torno de dois objetivos principais: modificação

da resposta imune do paciente e inibição direta da replicação viral. Para isso, de

forma genérica, podem ser utilizados: drogas imunossupressoras, drogas

imunomoduladoras e antivirais.

Profilaxia

Pela alta taxa de mortalidade desta doença, dificuldade diagnóstica e

possibilidade de cura de difícil ou inviável acesso, a melhor abordagem em

relação à PIF é a profilaxia! Alguns métodos de prevenção e cuidado são:

  • Redução de condições estressantes aos gatos;

  • Redução da carga viral de FeCoV ambiental através da manutenção de um bom manejo sanitário dos ambientes (sua eliminação completa é impossível, pois o FeCoV é onipresente em ambientes felinos);

  • Nutrição adequada;

  • Reduzir disbiose gastrointestinal e falta de imunidade passiva em filhotes como fatores de estresse;

  • Desmame gradual e em idade adequada;

  • Evitar formação de grupos grandes (maiores que 5 gatos).

Bibliografia

COELHO, H.E. et al. Peritonite infecciosa felina, relato de caso. PUBVET, Londrina,

V. 6, N. 22, Ed. 209, Art. 1393, 2012.

Niels C. Pedersen et al. An update on feline infectious peritonitis: Diagnostics and

therapeutics – The Veterinary Journal 201 (2014) 133-141

Feline Infectious Peritonitis (FIP) – International CatCare, March, 2020

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