O sobrepeso é caracterizado pelo excesso de gordura corporal, tendo em questão um aumento igual ou superior a 20% do peso corporal do animal. É descrito como um desequilíbrio energético, no qual o animal consome mais energia do que gasta, podendo ser ocasionado por excessiva ingestão de calorias, redução do gasto calórico, genética, entre outros fatores.
Restrições comportamentais que alguns tutores impõem sobre seus gatos são causas diretas para o desenvolvimento da obesidade na espécie felina. Comportamentos como afiar as unhas, subir em móveis, correr pela casa e outros, muitas vezes incomodam os tutores e acabam por serem coibidos, o que consequentemente torna o gato pouco ativo no dia a dia. Embora esse seja um fator primordial, a obesidade não está apenas relacionada ao gasto calórico e sim a um quadro multifatorial que envolve a homeostase, o metabolismo energético e o controle de apetite. Tudo isso ligado a fatores de predisposição genética, gênero e distúrbios hormonais.
Os gatos são animais exclusivamente carnívoros. Sua alimentação natural consiste em tecido animal, composto principalmente por proteína, gordura, água e baixos níveis de carboidratos. Muitas rações ofertavas contém níveis ricos de carboidratos, principalmente derivados de arroz, os quais colaboram para um aumento sérico dos valores de glicose e insulina pós-prandiais. Como resultado, a saciedade é reduzida e instiga o animal ao consumo de maiores quantidades do alimento nas próximas refeições, levando o animal ao desenvolvimento do sobrepeso devido à maior ingestão de calorias. É importante ressaltar também, que muitas rações possuem gordura amplamente em sua composição para dar maior palatabilidade ao alimento. Para os gatos, é comprovado que a quantidade de alimento por eles ingerido varia de acordo com a palatabilidade. Sendo assim, rações com altos níveis de gorduras podem instigar ao maior consumo e consequentemente uma grande disposição ao aparecimento do sobrepeso.
Fatores de risco
Quando ligada a outros fatores que não a ingestão e gasto energético, o excesso de peso em gatos pode resultar em diversas enfermidades secundárias, como doenças orais, do trato urinário inferior, dermatopatias, diabetes mellitus, lipidose hepática e claudicações e muitos distúrbios endócrinos como hipoadrenocorticismo, hipotireoidismo, hiperinsulinemia e hipopituitarismo podem estar fortemente relacionados ao desenvolvimento de sobrepeso nos gatos, pois essas doenças resultam em desequilíbrio energético e consequente deposição de gordura. Além disso, o sobrepeso dificulta o processo de higienização por lambedura, um comportamento natural da espécie e que pode resultar em dermatopatias. O sistema cardíaco também pode sofrer agravos, pois o aumento da quantidade de gordura envolvendo o coração resulta em arritmias, taquicardias e menores índices de ventilação durante procedimentos anestésicos. Esses achados sugerem que a obesidade sobre o sistema cardíaco representa influência negativa e pode agravar a qualidade de vida do animal.
Diagnóstico
O diagnóstico de sobrepeso é realizado principalmente através de exames físicos, com avaliação de score corporal e pesagem do animal. A avaliação metabólica do paciente obeso são de extrema importância para constatar alterações primárias e/ou secundárias e determinar o estado de saúde do animal.
Tratamento
O tratamento para o sobrepeso consiste no estabelecimento de metas para redução do peso e persistência. Geralmente, em felinos, o tratamento demanda tempo e paciência por parte do proprietário e do médico veterinário. Pôde-se estabelecer como meta a redução de 1% do peso total por semana e cerca de 3% à 4% em um mês. Caso não haja sucesso na tentativa, pôde-se optar pela redução de 5% à 10% de calorias diárias, porém deve haver monitoramento rigoroso para garantir que não haverá redução de massa magra durante esse processo. Normalmente, as dietas devem conter níveis maiores ou iguais a 45% de proteína como energia metabolizável (EM) e apresentar baixos níveis de gorduras e carboidratos (menos de 10%). Um gato obeso deve consumidor entre 130kcal e 150kcal/dia para estimular adequadamente a perda de peso. A perda deve ser de gordura, jamais de massa magra, portanto a quantidade de proteína na dieta é essencial. Em todo o processo é importante que haja renovação dos exames complementares e da avaliação física do animal para avaliar se o tratamento está sendo eficiente para o paciente.
O sobrepeso é um fator negativo para a qualidade de vida dos gatos e, mesmo assim, está se tornando corriqueiro nos dias atuais pelos diversos fatores citados. Além disso, torna-se essencial o tratamento minucioso dos gatos já diagnosticados com sobrepeso, com monitoramento rigoroso e persistência para obtenção de bons resultados.
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