A Síndrome Atópica em felinos é caracterizada por uma hipersensibilidade do tipo I associado à presença de anticorpos imunoglobulina E (IgE) fixos ou circulantes. A atopia felina é uma reação alérgica crônica, hereditária, pruriginosa e sem cura ocasionada devido a hipersensibilidade a alérgenos ambientais. A dermatite atópica não tem cura, contudo é tratável.
Causas
A atopia felina é uma resposta exagerada dos anticorpos IgE fixos ou circulantes à hipersensibilidade associada ao contato com alérgenos ambientais. Os alérgenos quando em contato com a pele do animal apresenta uma hipersensibilidade, desencadeando uma reação alérgica. A reação alérgica crônica tendo todas as outras possibilidades de patógenos excluídos, é denominada de atopia.
Em geral, a síndrome da pele atópica felina afeta mais fêmeas do que macho. Segundo a ICADA (Internacional Committee Allergic Diseases of Animals), 58,4% (132/226) dos casos relatados na literatura são fêmeas.
A síndrome atópica inclui, além do cutâneo, o sistema gastrointestinal e o sistema respiratório (segue imagem abaixo).
© 2021 The Authors. Veterinary Dermatology published by John Wiley & Sons Ltd on behalf of the European Society of Veterinary Dermatology and the American College of Veterinary Dermatology, 32, 26–e6.
Segundo a imagem. O cutâneo pode ser afetado por picada de pulga, por síndrome da pele atópica felina e por alergia alimentar, já o sistema gastrointestinal pode ser afetado apenas por alergia alimentar e o respiratório por asma.
Sinais clínicos
Cutâneo
Prurido intenso (coceira) - principal sinal clínico, principalmente na face, cabeça e pescoço
Alopecia (queda de pelo)
Dermatite miliar
Complexo do granuloma eosinófilo
Urticária
Eritema (manchas avermelhadas)
Otite externa recorrente
Gastrointestinal
Vômito
Diarreia
Perda de peso
Diminuição do apetite
Respiratório
Dispneia
Abertura da boca para respirar
Hiperpneia
Taquipneia
Cianose
Tosse crônica
Geralmente, o prurido é o primeiro sinal clínico, porém alguns gatos podem não apresentar histórico de prurido.
Cada indivíduo poderá ter sinais clínicos diferentes. A individualidade da reação que o animal possui à alergia torna ainda mais difícil o diagnóstico e, cabe ao médico veterinário ser investigativo e determinado para que chegue ao resultado correto.
Imagem de um gato com prurido intenso na cabeça. Fonte: NCBI ‘’atopic dermatits in cats’’. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5819051/
Predisposição
Como a alergia atópica é hereditária, o animal que possui o gene; já nasce com uma predisposição a desenvolver a doença. Ter predisposição não significa que o animal, obrigatoriamente, desenvolverá a doença. Contudo, o animal predisposto que entrar em contato com alergênicos ambientais poderá ter mais chances de desencadear reações alérgicas.
Diagnóstico
O diagnóstico de atopia felina, dá-se a partir da exclusão de outras possíveis causas de reações alérgicas. Ou seja, o médico veterinário responsável pelo caso vai selecionar todas as prováveis causas da alergia e fazer exames para avaliar todas as possibilidades. Quando todos os testes forem realizados e descartadas as possibilidades, a síndrome atópica será diagnosticada. Portanto o diagnóstico de atopia é baseado na exclusão de outras doenças.
Principais diagnósticos diferenciais da síndrome da pele atópica felina:
Tratamento
O tratamento da atopia felina deve ser individualizado, selecionando o medicamento mais indicado para o tratamento de cada indivíduo e, também, sendo avaliado a severidade dos sinais clínicos. Encontrar um tratamento eficiente para um paciente não significa que outro paciente responderia da mesma forma.
O uso de ciclosporina e glicocorticoides para a redução de manifestação clínica, como o prurido, são muitas vezes recomendados como uma forma de proporcionar conforto ao animal. Contudo o uso de glicocorticoides deve ser muito bem avaliado pelo médico veterinário, pois os gatos tendem a ter mais reações adversas ao uso desse medicamento, ainda mais de uma forma prolongada.
A ciclosporina pode ser administrada em gatos a 7mg/kg PC (peso corporal) e possui poucas reações adversas. Há também a opção do uso de pulsoterapia em pacientes que apresentem sinais clínicos a longo prazo. Em contrapartida, o uso de pulsoterapia não deve ser administrado àqueles pacientes que tem contato com a rua, pois animais que saem tendem a ter mais acesso a caça e, consequentemente, a ingestão de carne crua, podendo contrair toxoplasmose. A toxoplasmose pode inibir a função de LT devido à ciclosporina.
Alguns estudos apontam o uso de esteroides injetáveis como última opção de tratamento devido a riscos cardíacos que o paciente possa apresentar.
Respostas ao tratamento com ciclosporina em 328 casos de síndrome da pele atópica felina (FASS) – ICADA (Internacional Committee Allergic Diseases of Animals)
Resumo das recomendações de tratamento para gatos com síndrome atópica:
Tratamento com glicocorticoides em gatos com síndrome da pele atópica felina:
Prevenção
Como o animal é predisposto a desenvolver tal doença - se ele tiver contato com alergênicos ambientais, o melhor a se fazer é observar o ambiente em que o animal se encontra, e mantê-lo sempre limpo para evitar ácaros e fungos. E é importante manter sempre o animal dentro de casa, para evitar contato com possíveis alergênicos. Mantê-lo em casa também é indicado para prevenir a contração de outras doenças.
Referências
Small Animals Dermatology 5th edicttion páginas 601-610
Miller WH, Griffin CE, Campbell KL. Muller & Kirk’s Small Animal Dermatology. 7th ed. St. Louis, Missouri: Elsevier; 2013. Página 388-416
Clinical signs and diagnosis of feline atopic syndrome: detailed guidelines for a correct diagnosis – ICADA (International Committee on Allergic Diseases of Animals)
Treatment of the feline atopic syndrome – a systematic review – ICADA
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